Controle de Estabilidade Veicular: Limites da Simulação e o Desafio da Validação

Controle de Estabilidade Veicular: Limites da Simulação e o Desafio da Validação é um artigo que apresenta os principais achados de um estudo técnico voltado à avaliação do sistema de controle de estabilidade (Vehicle Stability Function – VSF) aplicado a uma combinação veicular composta por cavalo mecânico 6x2 e semirreboque de três eixos com suspensão metálica. A avaliação concentrou-se exclusivamente no semirreboque, com o cavalo mecânico operando com o controle de estabilidade desligado.

A proposta combinou simulações em ambiente virtual com testes experimentais em pista, considerando manobras críticas como o Steady State Circular Test (CT) e o J-Turn (JT), sob atuação e não atuação do sistema de estabilidade.

Motivação: quando a norma permite simular em vez de testar

A motivação central do trabalho está diretamente relacionada à Portaria da Secretaria Nacional de Trânsito (SENATRAN), que regulamenta os procedimentos de validação de ferramentas de simulação no processo de homologação de sistemas veiculares, conforme estabelecido pela Resolução CONTRAN nº 954/2022.

A norma permite o uso de modelos numéricos como alternativa à experimentação física, desde que atendidos critérios mínimos de correlação estatística. Mas isso levanta uma pergunta incômoda: até que ponto a correlação numérica — por exemplo, Pearson > 0,7 — é suficiente para garantir que o sistema atuará a tempo de evitar um acidente real?

Metodologia: integração de simulação e pista

O modelo foi desenvolvido no software Adams/Car, com co-simulação via Matlab/Simulink, permitindo simular com fidelidade o acionamento do sistema VSF.

O chassi do semirreboque foi modelado como corpo flexível, com base em análise modal (FEA), aumentando a aderência aos modos estruturais reais. Os testes físicos foram conduzidos no Centro Tecnológico Randon (CTR), com instrumentação completa para captura de velocidade, aceleração lateral, pressão de frenagem e momento exato de atuação do VSF. Essa estrutura possibilitou a comparação direta entre os dados experimentais e os simulados.

Resultados: boa correlação, margem estreita

A modelagem atendeu aos critérios normativos, com correlação estatística aceitável nas variáveis principais. No entanto, os momentos de atuação do VSF ocorreram muito próximos dos limites físicos de tombamento.

E isso nos leva a outro ponto: um modelo com 70% de correlação pode ser aprovado mesmo prevendo a intervenção do sistema após o início do tombamento do implemento. Além disso, há um obstáculo importante: os algoritmos embarcados dos sistemas de ESC frequentemente são adaptativos, com lógica proprietária protegida pelos fabricantes, o que dificulta sua representação completa no ambiente de simulação.

Reflexão crítica: é hora de evoluir os critérios

O trabalho mostra que simular é viável — desde que se saiba exatamente o que está (e o que não está) sendo modelado. Acreditamos que os critérios regulatórios precisam evoluir, incorporando:

• Métricas de erro máximo (e não apenas correlação média);

• Tempo de defasagem entre o evento crítico e a atuação esperada;

• Faixas de tolerância que levem em conta a segurança real e não apenas o ajuste estatístico.

Essas e outras reflexões serão aprofundadas na apresentação completa do trabalho no 13º Colloquium SAE BRASIL de Suspensões e Implementos Rodoviários & Mostra de Engenharia – Seção Caxias do Sul. Convidamos todos os profissionais da engenharia, regulamentação e segurança veicular a participarem dessa discussão essencial para o futuro da homologação por simulação - dia 14 de maio, às 16:30. 

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